Por Carolina Maria Ruy

Década perdida é como apelidamos a década de 1980. O fortalecimento do neoliberalismo levou ao acirramento do desemprego, insegurança financeira, precarização das relações de trabalho, desarticulação entre os trabalhadores, a um aumento da terceirização e diminuição da proteção do Estado.

Aquele contexto de abandono foi matéria prima para a cultura de contestação que denunciava o individualismo e o empobrecimento da sociedade. Fazia muito sentido para os jovens e adultos aquela raiva toda nos versos de Declare Guerra, escrita em 1986. Além da crise social e econômica a música denunciava discursos políticos hipócritas que emergiam mirando a volta de eleições diretas depois de mais de 20 anos de ditadura. Por isso ela é um manifesto de alerta os cidadãos “declare guerra a quem finge te amar”.

Uma esquerda abalada pelo fim da guerra fria e uma igreja católica comandada por um Papa anticomunista, que trabalhou para desarticular setores progressistas, garantiam a desesperança política daquele momento. Até o Papa te esquece, só o inferno te aceita, ele diz.

Assim foram aqueles fatídicos anos de 1980. Mas Declare Guerra serve também para os dias de hoje. O Papa mudou, a sociedade chegou a evoluir. Mas desde 2016 vivemos um tsumani de retrocessos e hoje atingimos uma crise que faz os anos 80 parecerem anos dourados.

São quase 15 milhões de desempregados, inflação alta, carestia, aumento da fome, da miséria e crescimento da violência, escalada autoritária e, ainda por cima, uma peste que só víamos em livros de história, administrada por um governante insano e irresponsável. O normal caiu por terra e aquela parte que soava como certo exagero “Nem parece o mesmo, Tá ficando pirado, Onde você encosta dá curto, Você passa, o mundo desaba” tornou-se a realidade de milhões de brasileiros. A vida anda ruim na aldeia.

Fonte: https://radiopeaobrasil.com.br/barao-vermelho-canta-declare-guerra-musica/